segunda-feira, 24 de maio de 2010

Operação Barbarossa

Operação Barbarossa
O Ataque Nazista à URSS

Há 60 anos, no 22 de junho de 1941, quando quase se completavam dois anos de guerra na Europa ocidental, o mundo foi surpreendido pela notícia de que naquela madrugada iniciara-se o ataque geral das forças armadas alemãs contra as fronteiras da União Soviética, até então neutra no conflito. Ao som ensurdecedor de mais de seis mil bocas de canhões alemães, os russos viram-se de inopino em meio ao inferno de uma guerra total. Naquele dia fatídico, Adolf Hitler ordenara a invasão e a destruição da URSS.
As rádios alemãs entraram em cadeia um pouco antes das 7 horas da manhã para um comunicado especial. Numa voz emocionada e tensa, Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda do Reich, leu o comunicado doFührer Adolf Hitler à nação: "Povo alemão! Neste momento está em andamento uma marcha, ela pode ser comparada na sua extensão como a maior que o mundo já viu. Eu decidi novamente colocar o destino do futuro do Reich e do nosso povo nas mãos dos nossos soldados. Possa Deus ajudar-nos, especialmente nesta luta." Não havia nenhum exagero nessas palavras. Com a invasão da URSS, teria início a mais colossal batalha dos tempos modernos, quiçá a maior de todas elas, aquela que envolveu a Alemanha nazista e a Rússia comunista. Tudo foi nela eloqüente, não só pelas paixões ideológicas envolvidas, como pela quantidade exorbitante de vidas, de recursos e equipamentos que ela exigiu de ambas as partes. Para Hitler, tratava-se de uma cruzada para livrar para sempre o Ocidente da ameaça judaico-comunista, para os soviéticos tratava-se da sua sobrevivência, da própria causa de existir do povo russo.

A Operação Barbarossa

O nome código escolhido por Hitler para designar a grande operação de ataque não era casual. A palavra "Barbarossa" remetia à figura de Frederico Hohentaufen, o grande imperador alemão da Idade Média, o Frederico I do Sacro Império Romano-Germano, morto em 1152. Nome lendário e respeitado entre os cavaleiros cruzados, alguém que empenhara seus recursos em favor da causa da cristandade contra os infiéis. De certo modo, Hitler via-se como a encarnação de Frederico Barbarossa (o "Barba Vermelha", como os italianos o chamaram), liderando um enorme operação militar para esmagar a heresia comunista que se encastelara mais ao oriente, no Kremlin de Moscou.
O General Halder, chefe da OKH (o alto comando militar alemão), o executor da operação, dividiu-a em três grandes objetivos: o grupo dos exércitos Norte, sob o comando do marechal de campo Ritter Von Leeb, tinha como meta rumar em direção à Leningrado, fazendo lá junção com as tropas finlandesas que viriam de mais ao norte, esmagando a resistência da grande cidade, atuando sobre ela como se fosse um imenso alicate; o grupo dos exércitos do centro, sob o comando do marechal de campo Fedor von Bock, tinha ao seu encargo realizar uma poderosa ofensiva direto ao centro da Rússia, rumando o mais rápido possível para Moscou; por fim, o grupo de exércitos do Sul, no comando do marechal de campo Gerd von Rundstedt, marcharia para as ricas terras da Ucrânia, tendo como meta alcançar Kiev.
As Razões do Fracasso Soviético Inicial
Durante muito tempo, enquanto Stalin viveu, os soviéticos não procuraram esmiuçar os motivos do fracasso inicial em deter a máquina de guerra alemã. Somente depois do XX Congresso do Partido Comunista, realizado em 1956, é que começaram a procurar os detalhes daquela calamidade. Alexander Werth arrolou algumas delas: - o expurgo do exército vermelho às vésperas da guerra; a propaganda exagerada sobre a invencibilidade das forças soviéticas; a falta de profissionalismo da oficialidade soviética frente aos profissionais alemães; o baixo grau do treinamento das tropas, o fracasso da indústria bélica em poder equipar as tropas com material moderno; a subestimação da eficácia da guerra relâmpago levada a efeito pelos alemães, desprezando-a como uma "teoria burguesa" de fazer a guerra, não havendo estudos de como poder romper com o cerco feitos pelos blindados, e, por último, a obediência ao dogma do "culto à personalidade" isto é, a Stalin, e os traumas psicológicos provocados pelo Grande Terror, que impediram os comandantes militares soviéticos de tomarem as iniciativas corretas no campo de batalha quando se viam atacados. (A.Werth - A Rússia na Guerra, vol. I, pág. 159/160; e também as argutas observações de Constantin Simonov - Os vivos e os mortos)


Os soldados soviéticos e os guerreiros do passado

"Espere por mim"
Um dos poemas mais comoventes que retrata a situação do soldado russo no fronte de guerra do ano de 1941, dilacerado pela tragédia da guerra e a esperança de um dia sair dela vivo e vitorioso, foi escrito por Constantin Simonov. Disse ele:
"Espere por mim, que eu retornarei - só espere com muito ardor;
Espere da mesma forma quando você sentia-se triste pela chegada da chuva amarela;
Espere quando o vento varrer os flocos de neve; espere no mais intenso calor;
Espere quando os outros, esquecendo-se dos seus dias anteriores, pararam de esperar;
Espere mesmo quando de longe não mais chegarem cartas para você;
Espere mesmo quando os outros já cansaram de esperar;
Espere mesmo quando a minha mãe e o meu filho pensarem que eu não existo mais;
E quando os amigos sentados ao redor do fogo brindarem à minha memória,
Espere, e não te apresses também em beber com eles pela minha memória;
Espere, pelo meu retorno, a despeito de todas as mortes;
E deixe aqueles que não me esperaram dizer depois que eu tive sorte;
Eles nunca vão entender isso, pois em meio a tanta morte,
Tu, com a tua espera, conseguiste me salvar;
Somente você e eu sabemos como eu sobrevivi -
É porque você me esperou quando ninguém mais o fazia."


Espere por mim!

(Em tradução espanhola)
Espérame y volveré, /espera, espera. /Aunque las lluvias amarillas /Infundan tristeza, espera. /Espera aunque la nieve caiga y vuelva a caer, /Espera aunque el calor te sofoque, /Espera aunque otros /Olvidados de ayer /No esperen.
Aunque no llegen cartas /Del frente distante, espera. /Espera aunque todos los que esperaban /Se hayan cansado de esperar. /Espérame y volveré, /No hagas caso /De quienes insisten /En que es hora de olvidar.
Que madre e hijo crean /Que ya no existo, /Que los amigos se cansen de esperar, /Que se sienten junto al fuego, /Que beban vino amargo /A la salud de mí alma... /Espera. Y no te precipites /A beber con ellos. /Espérame y volveré, /A pesar de todas las muertes,
El que no me esperaba /Que diga: Tuvo suerte. /Aquiellos que no supierin esperar, no podrán /Comprender /Que en medio del fuego /Tú fuíste quien me salvó /Esperándome.
Cómo salí con vida /Sólo tú y yo lo sabremos, /Simplemente porque tú supiste esperar Como nadie en el mundo.

Conclusões

"Não morreremos de velhos, morreremos das velhas feridas."
Semion Gudzenko (1922-1953)
A guerra germano-soviética ocupou um capítulo aparte na história da Segunda Guerra Mundial, principalmente pela ferocidade com que foi travada e pelo grau inaudito de destruição que provocou. Conforme o conflito foi se estendendo por boa parte da Rússia ocidental e se prolongando por quatro anos, terminou por ganhar dimensões épicas. Stalin tentou inicialmente dar um cunho ideológico ao ataque nazista, querendo entender que se tratava primordialmente de um enfrentamento entre o comunismo e o fascismo europeu. Hitler talvez pensasse o mesmo no começo. Mas o ódio que a ocupação da Rússia despertou entre os seus habitantes e as crescentes atrocidades dos invasores fizeram com que ela descambasse para uma guerra étnico-racial. Logo os comunistas trataram de defini-la como a Grande Guerra Patriótica, procurando com isso atribuir-lhe um cunho nacional-patriótico, chamando para as suas fileiras os nacionalistas e os anticomunistas que ainda sobreviviam no país, para formarem uma poderosa frente de resistência. Não se tratava mais de comunistas contra fascistas, mas do povo russo inteiro contra o que o escritor Ilya Ehremburg chamou de a "praga de gafanhotos", os alemães. E de fato, foi em solo russo que a Alemanha perdeu mais de 70% dos seus efetivos (cerca de três milhões de baixas).

A Vitória Soviética

Depois de terem sido detidos em Leningrado (cercada durante 900 dias) e na frente de Moscou, em dezembro de 1941, duas outras batalhas colossais colocaram fim nas possibilidades de vitória nazista. A primeira delas foi travada na cidade de Stalingrado, à beira do rio Volga, que culminou na rendição do 6º Exército Alemão, comandado pelo marechal Paulus, no dia 1º de fevereiro de 1943, que provocou uma perda de 300 mil homens. A segunda foi a batalha de Kursk, ocorrida no sul da União Soviética e que tornou-se maior batalha de blindados de todos os tempos, quebrando para sempre com a capacidade ofensiva do exercito alemão. Dali em diante, o exército vermelho, ao preço exorbitante de cinco milhões de baixas, tomou a contra-ofensiva em toda a extensão do fronte, até que, finalmente, os marechais soviéticos Zuhkov e Konev entraram numa Berlim completamente destruída, em abril de 1945, obrigando a Alemanha nazista à rendição final no dia 8 de maio daquele ano mesmo.



Bibliografia
• Calvocoressi, Peter - Wint, Guy - Total War (Penguin Books, NY, 1981)
• Carell, paul - Unternehmen Barbarossa (Clarck, Alan - Barbarossa: the Russian-german conflict, 1941-45 (Quill, NY, 1985)
• Conquest, Robert - The Great Terror (Macmillan, Londres, 1968)
• Cooper, Matthew - The German Army, 1933-1945 (Macdonald and Janes, Londres, 1978)
• Liddel Hart - History of the Second World War (Pan Books, Londres, 1977)
• Townshend, Charles - Modern War (Oxford University, Oxford, 1997)
• Werth, Alexander - A Rússia na guerra (Civilização brasileira, RJ, 1966, 2 vols.)

Um comentário:

  1. Site que copiei esse artigo.
    http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/barbarossa.htm

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